O auditório municipal de Castanheira de Pêra foi o local escolhido pelas duas organizações parceiras nesta iniciativa (UGT e Confagri) para receber a conferência solidária que abordou o tema “Valorizar o Interior - Promover o Investimento e o Emprego”.

Além dos autarcas das regiões circundantes, esta iniciativa teve ainda como convidados um leque de conferencistas que abrangeram os ministros da tutela da Agricultura e do Ambiente, o Secretário de Estado do Emprego e vários agentes sociais responsáveis pela dinamização do apoio aos territórios rurais atingidos pelos incêndios de 2017.

A Presidente da Câmara Municipal de Castanheira de Pêra, Alda Carvalho, deu as boas-vindas a uma sala repleta e no seu discurso saudou esta iniciativa conjunta que, no seu entender, servirá para dar visibilidade a uma região profundamente devastada e para aproximar os decisores políticos da realidade destes territórios. No seu discurso, a autarca elencou algumas das prioridades do município para a região afirmado que se “pretende transformar Castanheira de Pêra num modelo de práticas demonstrativas do que deve ser a floresta e o mundo rural nas áreas de baixa densidade, tornando o nosso concelho num caso de estudo”. Alda Carvalho exortou o Governo à “criação de um projecto-piloto de inovação, como referência e inspiração nacional”. Por fim, manifestou ainda a sua preocupação relativamente à possibilidade de incumprimento das metas impostas pela legislação inerente à limpeza das florestas, devido à falta de meios técnicos e humanos.

Em seguida tomou a palavra o Secretário-geral da UGT, Carlos Silva, que começou por reafirmar que o envolvimento da central sindical nas questões do interior, da valorização das regiões de baixa densidade, da empregabilidade e do investimento, se prendem com o facto de em todas estas questões existirem pessoas, e “onde as pessoas estiverem, a UGT estará envolvida”. Para o líder da UGT, o interior tem de ser olhado de outra forma para que a capação de investimento, a fixação de empresas e de populações seja uma realidade. “Este deve ser um desígnio nacional”: o combate às desigualdades demográficas, económicas e sociais que afectam estes territórios,” concluiu.

Depois, o comendador Manuel dos Santos Gomes, Presidente da CONFAGRI, destacou o apoio dado pela sua organização e pelas suas associadas às zonas destruídas pelos incêndios. Nas suas palavras, a CONFAGRI espera que “os membros do Governo depois de ouvidas as populações e as autoridades locais, tenham o discernimento e as politicas para atalhar à dramática situação existente”. O comendador defendeu que já existem “condições para se fazer um balanço das medidas tomadas, a respectiva eficácia e as correcções necessárias de modo a se tomarem novas e ajustadas iniciativas”. A fechar disse que “há necessidade de continuar com medidas de apoio às populações, empresas e organizações, pois só assim haverá condições para o desenvolvimento económico e criação de emprego”.

A sessão de abertura contou ainda com a presença do Secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita que no seu discurso elogiou a iniciativa das duas organizações, salientando a tónica dada e que coloca a questão em dois planos fundamentais, por um lado a necessidade de responder às situações das vítimas e dos territórios afectados e por outro, uma respostas estrutural, que remete para o papel do investimento e do emprego na revitalização do interior, nas zonas de baixa densidade. O membro do executivo destacou que perante uma sociedade portuguesa profundamente desigual, quer nas questões salariais, nas qualificações, mas também resultado de um processo de modernização e desenvolvimento acentuado, levou a que se criasse também um fosso acentuado entre as cidades e o mundo rural.

Perante todos estes fatores de desequilíbrios territoriais, com consequente perda de massa crítica, de atratividade, de capital e investimento, a solução passa por “convocar uma intervenção pública às assimetrias regionais do Pais”. “Sem políticas públicas direcionadas para estes territórios e para resolver estas graves assimetrias não conseguiremos fazer face a estas dificuldades”.

Coube ao Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, fechar a sessão de abertura e cuja intervenção versou sobre as medidas tomadas pelo Executivo, desde de medidas legislativas, a programas e concursos destinados à revitalização das zonas afectadas pela catástrofe dos incêndios de 2017. O ministro da tutela anunciou que o seu ministério encerrou na sexta-feira o pagamento aos agricultores afetados pelos grandes incêndios de 2017. "Foi um esforço gigantesco que envolve mais de 24 mil agricultores e para os quais há um apoio financeiro que ascende a 88 milhões de euros", salientou o governante.

Segundo Capoulas Santos, o Ministério da Agricultura encerrou o processo de pagamento aos agricultores afetados pelos incêndios de junho e outubro na região Centro com prejuízos até cinco mil euros, que tinham recebido até ao final o ano 75% do apoio concedido.

"Reservámos o restante do pagamento [25%] após a verificação dos controlos, infelizmente as irregularidades detetadas foram poucas, cerca de 800", disse o ministro.

Os 900 projetos de maior dimensão, que vão dos cinco mil até aos 800 mil euros, serão pagos contra a comprovação dos investimentos, adiantou o governante.

Além disso, Capoulas Santos revelou que os planos regionais de ordenamento florestal, criados no âmbito da Reforma Florestal lançada pelo Governo, devem estar concluídos até ao final de Junho. O governante sublinhou que, até 2020, todos os municípios vão ter de incluir nos Planos Directores Municipais (PDM) aquela “componente florestal”.

“As regras para instalar uma floresta passam ser iguais às que agora existem para instalar espaços urbanos. O mosaico florestal em cada município deve respeitar as regras dos planos regionais de ordenamento florestal”, explicou.

“O ordenamento florestal é uma parte importante da Reforma da Floresta que está em vigor. O nosso principal problema é a falta de gestão, ordenamento e de regras de como a floresta deve estar instalada”, disse o ministro da Agricultura.

Seguiu-se o primeiro painel de oradores que abriu com a participação do conferencista convidado, o professor Arlindo Cunha. Na sua intervenção o antigo ministro da Agricultura considerou que o interior do País está numa situação gravíssima, decorrente dos desequilíbrios demográficos e da desertificação que ocorreu ao longo dos anos nestes territórios.

Segundo Arlindo Cunha, entre os problemas que afectam o interior, destacam-se a disparidade de rendimento e de oportunidades [face ao litoral], “uma catástrofe demográfica anunciada”, a desertificação dos territórios e a “morte do património rural”.

“Quando os territórios não têm peso nem economia, as debilidades vêm ao de cima”, frisou.

Para o antigo ministro, os vários governos foram reduzindo também os serviços públicos nas regiões do interior. Neste contexto, e face a esta situação, o catedrático defendeu para os territórios do interior e para as áreas ardidas, políticas de discriminação positiva.

O mesmo painel teve como comentador o ex-Presidente do Conselho Económico e Social, Silva Peneda, que na sua intervenção defendeu a necessidade de se pensar nas políticas a aplicar e na escolha de opções para o desenvolvimento territorial.

“Portugal não tem uma estratégia territorial. Os três grandes problemas de Portugal são a dívida, a demografia e as desigualdades”, considerou Silva Peneda. Para resolver estes problemas, sublinhou a solução é “um amplo consenso político”.

Também os restantes comentadores, Valdemar Alves, Presidente da Câmara Municipal de Pedrogão Grande, e o técnico da CONFAGRI, Cláudio Heitor, alertaram, por um lado, para a necessidade de uma continuidade de apoio das políticas públicas a estes territórios e, por outro lado, a desburocratização de procedimentos de modo a uma maior celeridade nos processos e tomadas de decisão.

A manhã terminou com a intervenção do ministro da Economia, Caldeira Cabral, que considerou que o interior é um espaço para grandes projectos de investimento, colocando de parte a ideia de que esta parte do país não tem soluções.”

"O interior não tem de ser uma região sem prosperidade e há espaço para investimentos nas novas indústrias, como nas áreas mais tradicionais, como é o caso da agricultura", sublinhou o governante.

O ministro da Economia apresentou vários exemplos de investimentos realizados em diversos sectores, considerando que "no interior há espaço para grandes projectos em sectores e áreas mais sofisticadas, que estão a acontecer".

Salientando que o interior "não é uma região menos capaz", Caldeira Cabral considerou que, pelo contrário, é uma zona com "muitas soluções e que tem mostrado que é muito competitiva", apontando também o crescimento registado no turismo.

A tarde começou com a intervenção do Ministro do Ambiente, João Matos Fernandes. No seu discurso, destacou que não se poderá escolher em “proteger o ambiente ou a economia. A economia será protegida e prosperará, se o ambiente for protegido e prosperar”. Para o governante “as políticas ambientais são os únicos impulsionadores da transformação social e económica” e acrescentou que “as asneiras que se fizeram sobre o território não se resolvem em meia dúzia de anos”.

“Temos de olhar o território como um activo diferenciador e potenciador dos valores naturais, que potencie igualmente a valorização económica e social, assente em políticas de ordenamento, de conservação da natureza, de adaptação às alterações climáticas e de habitação, que nos permitam viver bem nos limites do nosso planeta”, concluiu.

Em seguida teve inicio o painel sobre a revitalização dos territórios atingidos pelos incêndios de 2017, que pretendeu num leque variado de conferencistas fazer um ponto de situação face ao ocorrido. Moderado pelo Secretário-geral da UGT, este painel contou com a apresentação de João Paulo Catarino, coordenador da unidade de missão de valorização do interior do território, que fez uma abordagem deste programa que pretende com a implementação de várias medidas, desde a segurança pública, ao ordenamento e gestão da floresta ou à dinamização económica, promover a revitalização da zona do Pinhal Interior.

Este painel teve como comentadores os autarcas, Jorge Abreu, Presidente da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos e, Álvaro Amado, presidente da Câmara Municipal da Guarda, que nas suas intervenções destacaram a necessidade de investimento público e a aplicação de políticas públicas na dinamização destes territórios.

O último painel da tarde foi dedicado ao terceiro sector e às organizações de solidariedade social e teve como convidados, o Padre Vitor Melícias e a Presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrogão Grande. Nádia Piazza. Num discurso enriquecedor, ambos os oradores deixaram claro a importância das instituições de solidariedade nestas situações de drama social, mas também na sociedade, enquanto factor de coesão social.

A sessão de encerramento iniciou-se com as palavras de Lucinda Dâmaso que deixou uma palavra de solidariedade a todas as populações afetadas pelos incêndios e congratulou-se pelo facto de este ter sido um dia de reflexão sobre o papel da solidariedade e do também do papel solidário e responsável que a UGT desempenha na sociedade portuguesa.

Também o presidente do CES, convidado para encerrar este evento, disse que é preciso “puxar pela cabeça” e arranjar soluções que promovam o desenvolvimento económico do país. “Temos de pensar em medidas que sejam cooperantes e sair do marasmo. Temos que puxar pela cabeça e arranjar soluções que promovam o desenvolvimento económico do país”, afirmou António Correia de Campos.

Correia de Campos disse que as parcerias com universidades e institutos politécnicos são essenciais para estas regiões e sublinhou a necessidade de se aprender com os erros do passado. “É preciso aprender com os maus exemplos e com aquilo que se passou”, concluiu.

"É o resultado do investimento que tem sido feito, das novas dinâmicas empresariais e da melhor organização dos produtores, que está a trazer mais rendimento para as regiões do interior e, nesse sentido, temos de continuar a trabalhar para não olharmos para o interior como [região de] perda de empregos, diminuição da população e da actividade económica", frisou.