Não nos iludamos com a espuma dos dias. A realidade é mais complexa e os problemas são persistentes no tempo.

Os fenómenos que nos são diariamente dados a conhecer pelos órgãos de comunicação social, agora nestes últimos dias mais abundantemente, há muito que vêm sendo denunciados sem que nada de substantivo tivesse sido feito como os factos o demonstram, relativamente ao litoral e interior alentejanos.

A velha máxima “fez-se qualquer coisa para que tudo ficasse na mesma", está subjacente ao fenómeno e a muitos outros problemas estruturais relacionados com o abandono e desertificação do interior e do interior litoral. O “Interior” é cada vez mais uma condição social e menos uma condição geográfica.  Também há, e muito, “interior” junto às grandes zonas urbanas e metropolitanas.

Seja qual for a situação geográfica ou a condição social em que cada um se encontre inserido, há uma coisa que todos e cada um de nós não pode admitir numa sociedade humana e essa inadmissibilidade é a de que a dignidade de qualquer ser humano possa ser degradada por inércia coletiva e inépcia pessoal.

Infelizmente a pandemia veio agravar muitas das situações vividas entre nós, quer em Portugal, quer na União Europeia e, porque não dizê-lo, em todo o mundo. A pobreza não só se revelou com mais força como as desigualdades se agravaram. Temos a estrita obrigação de no pós-pandemia não esquecermos ninguém e, por isso, ao dizermos que “não pode ficar ninguém para trás" temos que lutar para que ninguém seja mesmo ninguém. Temos que assumir, enquanto país, e sem tibiezas que a pobreza extrema é uma condição intolerável e que a pobreza enquanto tal é uma condição insustentável para todos os que queremos viver numa sociedade mais justa e equitativa.

A UGT tem vindo a acompanhar a situação complexa de milhares de trabalhadores e de suas famílias diariamente através dos seus sindicatos. A UGT, também tem continuadamente pugnado para que as autoridades atuem no âmbito das suas competências e por isso tem também lutado por mais e melhor negociação colectiva, mais e melhor diálogo social, para que fenómenos de exclusão como os denunciados não se venham mais a verificar.

Na centralidade da economia terá que estar sempre, e acima de tudo, a dignidade de cada ser humano. Não pode valer tudo, caso contrário seria a barbárie.

Não estamos a viver problemas que deverão ser resolvidos pelos outros. Cabe a cada uma das instituições nacionais e europeias e a cada um de nós enquanto trabalhadores e cidadãos resolver o problema. Infelizmente, sendo um problema de uns quantos, é também e acima de tudo um problema de todos.

Não desistiremos na UGT enquanto estes problemas persistirem e denunciaremos sempre quaisquer “atrocidades" que sejam acometidas a qualquer ser humano e por maioria de razão não podemos calar as injustiças que firam a essência da dignidade de cada um.

É tempo de ação. O Pilar Europeu dos Direitos Sociais deve mostrar as suas virtualidades.

Desempenhe cada um o seu papel e teremos a obrigação de criar uma sociedade mais justa.

A UGT não abdica do seu papel intransigente da defesa das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e suas famílias.  A UGT assume o “trabalho” como uma condição e a imigração como uma contingência. Não confundir o essencial pelo acessório é defender a justiça e melhores condições de vida. Um ser humano é um ser humano, um trabalhador é um trabalhador e um imigrante é um imigrante. Confundir tudo é não querer resolver problema algum. A dignidade humana não é transacionável, seja qual for a situação pessoal de cada um.

Urge resolver os problemas dos trabalhadores e suas famílias que estão a viver em desespero e já.

No pós-pandemia teremos obrigações acrescidas de solidariedade e de justiça social.

A UGT não deixará de se manter na linha da frente de tais lutas.

UGT, 5 de maio de 2021