No discurso de encerramento das comemorações do 1.º de Maio da UGT em Braga, o Secretário-geral, Carlos Silva, afirmou perentoriamente que não aceita “mexidas na Lei da Greve”, apelando a que os novos sindicatos “mais agressivos e descontrolados” não levem o Parlamento a “embalar” na restrição dos direitos dos trabalhadores.

Carlos Silva declarou que a “UGT é independente” em relação aos partidos políticos que disse respeitar mas que não tem “medo de lutar contra quem quer que seja que esteja” no Governo.

Referindo-se aos últimos acontecimentos sindicais e grevistas em Portugal, o Secretário-geral da UGT afirmou “ser preciso que o surgimento destes processos reivindicativos mais agressivos e descontrolados consciencializem os trabalhadores de que há que valorizar os sindicatos tradicionais, que apostam na negociação e no diálogo".

No seu discurso, Carlos Silva salientou também que foi “o forte ataque aos direitos dos trabalhadores que potenciou o crescimento de sindicatos sem qualquer vínculo às confederações sindicais tradicionais”.

Perante centenas de trabalhadores que encheram o Parque da Ponte, em Braga, o líder da UGT destacou “andar agora muita gente preocupada com o surgimento de sindicatos independentes, que não se filiam nas centrais sindicais, mas se algo se conquistou, com Abril de 1974 foi a liberdade de associação, a liberdade sindical e de expressão, bem como o direito à greve”.

Segundo o secretário-geral da central sindical, “os comentadores de serviço acham que estes sindicatos não se revêem na atitude do sindicalismo tradicional, mas na UGT, sempre combatemos a unicidade sindical, porque haveríamos agora de a querer impor aos outros?”.

“E por isso não podemos aceitar que os partidos se disponham a discutir a leia da greve devido a este fenómeno, prejudicando-se quem sempre pautou o seu comportamento pela decência e pela lucidez”, acrescentou.

Num discurso longo, o secretário-geral da UGT interrogou-se “como explicar a milhares de trabalhadores da administração pública que em 2019 os seus salários ainda se encontram abaixo do que recebiam em 2010”, acrescentando que “temos atingido a média europeia em tantas variáveis, designadamente em salários de gestores de topo e de banqueiros, mas os salários dos trabalhadores continuam longe dessa possibilidade, que ainda é apenas uma miragem”.

"Se nos últimos anos o clima económico foi de crescimento e de retoma da confiança, e não houve condescendência por parte do Governo, o que esperar no futuro perante uma tendência para o arrefecimento da economia? Se no tempo das vacas gordas não há aumentos salariais é nas vacas magras que os trabalhadores vão ser aumentados?", questionou.

“Não convém é esquecer que a administração pública é composta por mais de meio milão de trabalhadores, com as suas legítimas expectativas de carreira, de melhoria dos salários e de respeito. Daí que a nossa Central sindical esteja ao seu lado na defesa da contagem do tempo de serviço para efeitos de progressão nas carreiras, de valorização dos seus salários e de dignificação das suas pessoas enquanto profissionais ao serviço de todos os cidadãos.

"Estamos no tempo em que a Assembleia da República está a ponderar e a analisar, mas sobretudo num tempo em que é preciso tomar decisões políticas corajosas, sem calculismos, hipocrisias ou argumentos falaciosos.”, acrescentou.

Também a questão da Segurança Social não foi esquecida, deixando o recado que a UGT é contra a reforma aos 80 anos. “Falar de forma irresponsável na possibilidade de aumentar a idade da reforma para os 80 anos, é criar nos portugueses a imagem falsa de uma Segurança Social falida, sem margem para inovar nas soluções de sustentabilidade e criando o pânico na população, sem qualquer necessidade”, porque “para além de ser ultrajante para quem trabalha e desconta todos os meses no seu salário a sua pensão futura, é ofensivo estabelecer como sendo o único patamar de sustentabilidade da Segurança Social um horizonte de trabalho até à morte. Não contem com a UGT para essa discussão.”

E acrescentou: “Aliás, a UGT já fez saber, por diversas vezes, em sede de concertação social, que as nossas propostas vão no sentido de voltarmos a ter uma idade de reforma fixa, que permita aos trabalhadores planear com antecipação e certeza a sua saída da vida ativa.

"E reafirmamos que o Estado deveria considerar a antecipação da idade da reforma para os trabalhadores que laboram por turnos, tal é o grau de desgaste que este tipo de trabalho provoca em quem o executa há longos anos e de forma reiterada.”

O sindicalista terminou com um apelo à participação nas eleições europeias de 26 de maio e aos partidos políticos para "valorizarem e a defenderem o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, onde emerge a necessidade de podermos 'desligar do trabalho', de conciliar a vida profissional com a vida pessoal e privada, onde as questões sociais, tão assentes no modelo social europeu, não sejam uma mera miragem do que este já foi", pediu Carlos Silva.

Já a Presidente da UGT, Lucinda Dâmaso, começou por afirmar que a realização em Braga, do 1º de Maio, é “cumprir a nossa promessa de descentralização”, agradecendo assim a recetividade da Câmara Municipal de Braga, na pessoa do seu Presidente, Ricardo Rio, ali presente no palco.

“O trabalho precário é uma chaga hoje em dia, muitos milhares de trabalhadores e outros na pobreza, trabalhando todos os dias, de manhã à noite, enquanto há mulheres que continuam a ganhar menos do que os homens, trabalho digno e de qualidade”, disse.

A dirigente sindical preconizou “o diálogo e concertação”, recordando que “sendo este um dia de festa, não podemos esquecer nem sossegar, enquanto prosseguiram desigualdades no trabalho, por isso a UGT estará sempre na primeira linha para defender as conquistas”.

Os tradicionais discursos sindicais dos dois rostos da UGT foram precedidos pelas intervenções do Presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, anfitrião nestas comemorações, e do Presidente da UGT-Braga. (ver abaixo todos os discursos).

Veja as Fotos do 1.º Maio da UGT abaixo