Realizou-se na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, a primeira Conferência do Ciclo de Conferências 2018, que a FNE organiza em conjunto com a UGT, CEFOSAP, ISCTE-IUL, CBS e a UFP, que se vai estender ao Funchal, Faro, Évora, Coimbra, Braga, Viseu, Bragança e Lisboa.

António Nunes e Miguel Angel Zabalza foram os conferencistas convidados para esta conferência que tratou do tema "Educação e Formação para um desenvolvimento sem desigualdades."

Foi numa sala praticamente cheia que João Dias da Silva, Secretário-Geral da FNE, deu as boas-vindas aos convidados da Conferência, justificando a realização deste Ciclo de Conferências para 2018 com a necessidade de debate sobre os desafios que se colocam aos sistemas educativos, de forma a contribuir para o Objetivo 4 de Desenvolvimento Sustentável (ODS) - "Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos" -, promovido pela ONU no seu roteiro do milénio.

A UGT uniu-se a esta iniciativa contando com ela também como parte do assinalar dos 40 anos da central sindical, pois ao longo deste tempo a União Geral de Trabalhadores sempre considerou a Educação e Formação como base fundamental para uma sociedade melhor.

Salvato Trigo, Reitor da Universidade Fernando Pessoa, tomou também a palavra na abertura e salientou como o processo educativo provem da epistemologia para a tecnologia. Para o Reitor, a Educação é domínio dos conceitos sendo que com o tempo a sociedade foi dando primazia à tecnologia, salientando ainda que enquanto procuramos a igualdade temos de lembrar que a tecnologia é um processo de desenvolvimento, reforçando que faltam conceitos e sobram ideias neste momento.

Em seguida, o Vereador da Educação da CM Porto, Fernando Paulo, congratulou a FNE e a UGT pela escolha da Cidade Invicta para o início deste Ciclo de Conferências, mostrando a importância que isso tem para a cidade. Sobre o tema, Fernando Paulo deixou o alerta para o futuro: é preciso saber criar inovação com formação. A Educação terá que ser uma prioridade, abrir a escola à comunidade e criar uma rede de saber, considerando que se exige de forma excessiva que a escola resolva todos os problemas sociais. Para o Vereador, a Educação não é a preparação para a vida: é a própria vida. E aí surge a necessidade de discutir os novos desafios e uma sociedade mais atual.

Carlos Silva, Secretário-Geral da UGT, tomou a palavra para dar o mote para todo o Ciclo de Conferências: contribuir para um Portugal melhor. Mostrar ao mundo que somos um país com condições únicas e idênticas aos melhores. E que a UGT trabalha para isso, para todos os trabalhadores portugueses, querendo contribuir para um crescimento inclusivo, sustentável, dando o exemplo de como considera injusto que Portugal seja comparado com países de Leste, criando condições para um país cada vez mais competitivo.

A UGT defende que é necessário defender uma melhor Educação e entendê-la como uma via de desenvolvimento. Para Carlos Silva "É preciso entender o papel dos professores, não os tratar como mercadorias que se atira para 200 km de casa colocando em causa a sua sustentabilidade", além de melhorar o acesso ao ensino é também preciso lutar por um Portugal mais inclusivo, considerando a Central como um exemplo de igualdade pois têm e defendem trabalhadores de todas as áreas.

 

"O tempo não pode ser usado em burocracias"

O primeiro painel de debate na conferência aconteceu com a moderação do Prof. António Nunes e a participação dos comentadores Rui Leandro Maia (Universidade Fernando Pessoa), Laura Rocha (SPZN/FNE), Paulo Silva (UGT/Porto) e Bernardino Pacheco (SPZN/FNE).

O Prof. António Nunes lançou a conversa trazendo ao debate "A escola de hoje, um espaço de sentidos, de reencontros e de incertezas", considerando que para ele os professores vivem uma vida de fragilidade. Para o Professor, a escola era antigamente uma sequência banal e agora é necessário perceber se pensamos a escola. A questão dos rankings com que as escolas são qualificadas é uma questão que para o professor apenas mostra o que é visível para nós, o exclusivo da verdade e que aquela é a realidade de uma escola.

O invisível é o que nos falta perceber. É necessário trabalhar com o conhecimento, considera o Prof. António Nunes, defendendo a intelectualidade como algo fundamental num professor. Usar isso para olhar, entender as coisas, melhorar a relação pedagógica. A pedagogia melhora o dia a dia pois vai começando uma relação de redescoberta diária. António Nunes criticou a burocracia que é incutida aos professores. Os docentes precisam usar o tempo para discutir soluções, ajudas e não burocracia. E praticar, muito, a pedagogia.

O Prof. Rui Leandro Maia (UFP) concordou com António Nunes, considerando a burocracia como um dos maiores problemas dado aos professores: "É necessário permitir aos professores tempo para pensar, ler, falar com colegas para construir algo deixando uma crítica ao modelo que a escola atual impõe". Para o Professor da Universidade Fernando Pessoa, o modelo escolar está mal adaptado para a diversidade, considerando que o aluno 'aprende como tem de aprender'. Pegando na questão dos rankings, também citada por António Nunes, Rui Maia considerou a situação como 'burguesa', mostrando que a performance dos alunos não pode ser medida desta forma, até porque a baixa escolaridade e o rendimento dos pais influencia o rendimento dos alunos na escola.

Já Laura Rocha (SPZN) afirmou que os professores sentem pressão pelo excesso de burocracia, pois quem regula está muito distante e não tem noção da realidade dos docentes. Que é necessário trabalhar mais em conjunto, permitir mais tempo aos professores para criar tarefas conjuntas e ultrapassar o desafio entre a escola cultura e a natural.

Paulo Silva (UGT-Porto) reafirmou "que não é fácil ultrapassarmos as desigualdades num sistema educativo com tantas diversidades como o nosso". Também o representante da UGT na mesa mostrou convicção de que a burocracia não permite combater desigualdades, entrando numa falta de autonomia. De qualquer forma "as janelas de oportunidades são muitas, e ainda esta semana se debateu nas escolas o perfil do aluno, com a ideia de trabalhar melhor as competências dos alunos, criando neles uma consciência nova do mundo".

Tal como os colegas de painel, Bernardino Pacheco (SPZN) considerou que a Educação e Formação assumem um papel preponderante num caminho que se pede igual para todos, embora considere "uma tarefa de grande complexidade e energia para todos os atores educativos", acrescentando ainda que "é necessário que a escola consiga encontrar motivações e estratégias para desenvolver as capacidades de cada aluno".

Em resposta aos colegas de painel, o Prof. António Nunes deixou algumas notas. A primeira é que a escola é neste momento um espaço segregador, divisionista e que deixa marcas para nunca se gostar de ler, discutir. A escola tem de ser "um espaço amoroso", mesmo que os alunos não aprendam. É necessário facilitar a inclusão e permitir aos professores que se demonstrem contra a entrega de prémios de mérito e que, desde o pré-escolar, se deixe de copiar o modelo americano no capítulo das festas de final de ciclo, que mostram ser tudo menos inclusivas.

 

"É necessário valorizar a integração e não os resultados"

O segundo painel da manhã foi constituído pelo outro conferencista convidado, o Prof. Miguel Angel Zabalza, que contou com as comentadoras Manuela Diogo (SPZN), Manuela Brito (UGT-Porto) e Susana Marinho (UFP).

Zabalza abriu a conversa com uma pergunta: Como definir a Educação? e prosseguiu procurando dar resposta a esta questão, começando por considerar que a missão que cada um tem como sujeito está a desaparecer. Para o espanhol, "cada pessoa tem a sua característica e devia ter um processo formativo mais adaptado". Considerou ainda que além de existirem vários tipos de diversidade, poucas escolas acompanham essas diversidades e o atraso de ensino de alguns alunos. A escola tem de redefinir-se para ser flexível e adaptar-se a situações que não estamos acostumados.

Daí, segundo Zabalza, a necessidade de criação de grupos homogéneos ou alternativas de diversidade. Ainda hoje o tema da inclusão é considerado institucional e é necessário alterar isso focando-nos mais no sujeito. O exemplo italiano, onde as escolas sabem no ano anterior que tipo de alunos vão receber no ano seguinte, permite uma preparação e formação dos docentes e não só para essas situações. Mas para isto é necessário criar uma cultura inclusiva, com políticas inclusivas.

As escolas têm de superar aquilo que o Prof. Zabalza chamou de "estudante imaginário". É preciso conhecer e adaptar o ensino em vez do sistema ser igual para todos. Obrigar a uma diversificação curricular para os estudantes, com espaços para o desenvolvimento e para obrigações. Mas para tudo isto é necessário um trabalho dos professores que tem de ter tudo planeado. Não acontecendo isto, qualquer proposta de diversidade fica eliminada. Sem mudar aquilo que é hoje em dia uma valorização dos resultados em vez da integração dificilmente vamos melhorar o sistema de ensino, segundo Zabalza.

Após a dissertação do académico espanhol, Susana Marinho (UFP) concordou, dizendo que a diversidade mudou e deixou de ser apenas para alunos com necessidades especiais. As soluções apontadas fazem pensar numa redefinição da escola em confronto com o que existe, e para isso a partilha de ideias e experiências entre professores assume um carácter decisivo.

Manuela Diogo (SPZN) defendeu o desafio da escola inclusiva. Para a professora, o atual sistema é um retrocesso em programas standard, desvaloriza o trabalho invisível e carrega de burocracia os docentes, além de referir a escassez de meios, de recursos, algo que contribui para a falta de respostas. Para Manuela Diogo é necessário pensar as escolas e prover um clima de bem-estar.

A psicóloga Manuela Brito (UGT-Porto) reforçou dois aspetos já muito falados até então: a ausência de tempo para os professores se conhecerem melhor e a burocracia com que são sobrecarregados. De forma curiosa, Manuela Brito deixou uma nota para a audiência: grande parte dos seus pacientes são professores, algo que a leva a considerar ser esta uma profissão muito vulnerável ao adoecer psicológico, apontando como causas maiores o facto de serem pedidos resultados, colocando dessa forma muita pressão, algo que podia ser aliviado caso esse pedido fosse trocado por progressos do aluno.

"A escola atual é um espartilho ao conhecimento"

A sessão de encerramento ficou a cargo da nova Presidente da UGT-Porto, Clara Quental, e da Presidente da UGT, Lucinda Manuela Dâmaso.

Foi Clara Quental quem primeiro falou, naquela que foi a sua primeira ação pública como Presidente da UGT-Porto. Clara Quental referiu que "não basta colocar no papel as igualdades, é necessário torná-las efetivas. É preciso que todos tenham acesso ao ensino e educação. As condições que cada um tem para aceder ao ensino estão dificultadas, pois a diversidade nos alunos, que vai desde o tipo de alimentação, habitação a outras, não pode permitir comparações. Isto condiciona a liberdade de acesso". A Presidente da UGT considerou a escola como "um espartilho à liberdade de pensamento e conhecimento do aluno, tirando a possibilidade de criar e ser criativo", sublinhando ainda que "limitar a criatividade faz com que no amanhã os cidadãos tenham horizontes mais curtos e mais problemas para resolver problemas".

A fechar, Lucinda Manuela Dâmaso congratulou a parceria entre UGT e a FNE, pois a UGT tem consciência do que a Educação representou nestes 40 anos, e nada melhor que esta associação para começar esta celebração de aniversário. A Presidente da UGT salientou a importância que a UGT dá à Educação referindo que possui o CEFOSAP e uma escola profissional pertencente à Associação Agostinho Roseta. Ao longo destes 40 anos houve sempre preocupação em acompanhar os problemas da Educação. Para Lucinda Dâmaso este debate "colaborou para aumentar responsabilidades e fazer diferenças nos locais de trabalho. É preciso que cada um contribua para uma mudança e tornar felizes os alunos". Por fim, diz que o caminho pode ser longo, mas "vamos lutar para que os alunos possam dizer que é o seu espaço de alegria e aprendizagem".

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